Pieron Reflexões
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Normalmente o praticante de esporte, quando está bem preparado física e emocionalmente, participando de uma prova ou durante o seu treino, entra num estado que denominamos Flow. Nesta condição existe muito foco, grande controle sobre o que se faz a cada momento e feedback imediato, advindo do próprio resultado alcançado. Além disso, não é raro uma sensação de que o tempo passa e não é sentido, pois, neste estado, há uma profunda imersão e concentração no que se faz.
A prática constante de um esporte que nos traz prazer instala um hábito. Digamos que seja um hábito salutar e que tende a permanecer, já que agrega um resultado do qual você se beneficia. Forma-se então uma crença pessoal de que podem coexistir esforço, dedicação, prazer e resultados.
No mundo corporativo vemos que resultados importantes, pelos quais se espera que determinado executivo preste conta, quase sempre dependem de outras pessoas, áreas e de variáveis sobre as quais não se possui muito controle ou influência. Portanto, alcançá-los requisita um número de habilidades adicionais às que utilizamos no esporte. E ainda que as tenhamos, não experimentamos o Flow com a mesma frequência ou intensidade obtidas na prática esportiva. Isto porque, no esporte, na maioria das vezes, traçamos os próprios objetivos bem como determinamos a intensidade e frequências dos treinos para alcançar ou superar os desafios que traçamos.
Em muitas organizações, por incrível que possa parecer, importantes objetivos nem sempre são definidos indicando a amplitude de alcance esperado, requisitos de qualidade, prazos, os recursos envolvidos e o nível de autoridade necessário para a sua execução. Alcançá-los nestas condições, pode ser um exercício frustrante e dispendioso. A coisa torna-se ainda pior quando um profissional não consegue conectar o seu trabalho com um claro contexto e propósito da sua organização.
No mundo corporativo, também, não é raro encontrar descompassos entre o nível de desafio e a capacidade profissional, ocasionando variadas sensações e emoções tais como tédio, aborrecimento, apatia ou relaxamento. Muito diferente das condições de excitação, controle e Flow obtidas quando os níveis da capacidade e dos desafios estão mais próximos.
Outro obstáculo na vida corporativa é que nem sempre o feedback para os profissionais é oportuno, objetivo e clarificador de rumos quanto ao seu desempenho. O peso de não o ter varia para cada profissional, entretanto, sua ausência pode acarretar muitos “ruídos” de comunicação e mesmo trazer “surpresas” no que diz respeito ao grau de alcance de resultados.
Portanto, alcançar a condição de Flow no campo profissional não é algo corriqueiro, já que existem muitos fatores intervenientes que estão fora de nosso controle.
É claro que fazer o que se gosta nos impulsiona na direção do Flow. Compreender as condições que nos fazem alcançá-lo, ainda que com uma frequência menor comparada ao esporte, é fundamental para aumentar a frequência deste canal emocional produtivo e de genuíno engajamento com o que fazemos em nosso “papel corporativo”.
Então quais seriam os pontos de contato entre a prática esportiva e as habilidades profissionais necessárias dentro do mundo corporativo e mesmo no trabalho fora dele?
A disciplina que temos no esporte pode nos impulsionar e fazer com que perseveremos na busca dos objetivos que temos em nosso campo profissional. A superação dos obstáculos no esporte, e o prazer associado a isto, são lições aprendidas que utilizamos como metáforas para ultrapassar as naturais adversidades do mundo corporativo. A cada superação sentimos prazer (às vezes alívio) e reforçamos o sentido de coisa própria pelo que fazemos. É assim que desenvolvemos a chamada resiliência, resultante da dinâmica natural promovida por desafios e superação de adversidades.
Isto não ocorre sem alta dedicação e compreensão das condições que nos levam e que nos retiram do FLOW.
Sugestões para buscar o FLOW para você que, como LÍDER, presta contas pelo resultado de seus liderados.
- Estabeleça (para si e sua equipe) objetivos ambiciosos, alcançáveis e claramente definidos, assegurando que exista um nível adequado de comprometimento com eles;
- Estabeleça o nível de autoridade adequado e recursos para a execução das metas e dos objetivos previamente definidos;
- Aponte eventuais desvios de rumo na prestação de contas de sua equipe;
- Seja claro. Forneça feedback adequado e oportuno. Realize periodicamente avaliações formais;
- Desenvolva e oriente individualmente para que sua equipe seja eficaz e trabalhe próxima de sua plena capacidade.
Sugestões para buscar o FLOW para você que, como profissional participa de uma equipe com suas contribuições individuais.
- Entenda os “porquês” dentro do seu campo de atuação e como suas atividades estão conectadas com os objetivos;
- Tenha clareza da extensão de metas e objetivos, prazos requeridos, requisitos de qualidade envolvidos. Pergunte-se: tenho a autoridade necessária para a execução? Quais são os recursos disponíveis? Quem precisa ser envolvido para o alcance deste resultado?
- Desenvolva a convicção de que você precisa prestar contas do que lhe é designado. Não surpreenda negativamente seus líderes, clientes ou colegas;
- Esteja aberto para conversas produtivas que contribuirão com o seu desenvolvimento;
- Mantenha a curiosidade acesa e busque por desafios que por vezes lhe trarão alguma excitação e por aqueles que você sente que “dará conta”;
- Desenvolva uma boa visão de si mesmo quanto a sua real capacidade para certos objetivos/metas.